Toda empresa, independente da atividade que pratica, faz gestão de risco corporativo, seja formal ou informalmente, de maneira técnica ou intuitiva, porque um negócio só é economicamente viável se o empreendedor conhecer o mercado, suas expectativas e seus riscos.
Sendo assim, “Sistemas de Gestão”, entendidos como o conjunto de políticas, diretrizes e controles utilizados para condução de processos em uma organização, iniciam suas atividades com planejamentos que se baseiam em levantamentos de aspectos e impactos, e perigos e riscos voltados e limitados à atividade-fim da empresa, bem como com a realização de avaliações nos fornecedores de serviços e matéria prima e em suas próprias atividades por meio de procedimentos técnicos que garantem a conformidade legal dos processos, aspectos éticos e de governança como um todo.
Entretanto, atualmente há a compreensão de que somente a prevenção e controle de seus impactos diretos não bastam para alcançar a efetividade de um Sistema de Gestão, pois sempre haverá vulnerabilidades intangíveis que podem prejudicar a imagem de uma organização e a percepção da sociedade com relação à marca, como falhas na cadeia de fornecedores de matérias primas no início do processo ou disposição desconforme do produto final.
Por estes motivos, uma gestão de riscos com objetivos sustentáveis de longo prazo não deve se limitar a um controle interno e ao atendimento à interesses de acionistas e colaboradores, expectativas de clientes e atendimento às exigências legais dos órgãos reguladores, como os responsáveis pelo licenciamento municipal, estadual ou federal. Deve ir além de suas “fronteiras”, pensar em todos os elos da cadeia produtiva, entender como sua produção impacta o planeta, e quais elementos que poderiam interferir em sua marca e reputação, mesmo que indiretamente.
O aumento da credibilidade de uma empresa, considerando sua maturidade econômica, financeira e reputação, não se baseia mais somente na busca incessante do aumento do lucro e da rentabilidade, mas, principalmente, no estabelecimento de um propósito por trás de uma marca corporativa mais forte e engajada com a promoção de ações responsáveis, ou seja, de uma vontade verdadeira em contribuir para a sustentabilidade socioambiental e de ações que comprovadamente considerem sua responsabilidade sobre as questões sociais, de governança corporativa e de meio ambiente, que seja pertinente às atividades que realiza e que, por consequência, possa gerar algum impacto ou influência positiva.
É neste contexto que surge o ESG (Enviromental, Social and Governance), em razão da expectativa de que os empreendimentos exerçam suas atividades de forma responsável para além da conformidade legal, havendo participação colaborativa na construção de um ambiente de negócios sustentável, que considere a finitude dos recursos disponíveis no ambiente, bem como os interesses das partes envolvidas, a transparência e o equilíbrio nas práticas de gestão da companhia, como se discutiu no Fórum de Davos em 2021, que reuniu grandes empresas ao redor do mundo para tratar sobre economia no âmbito global.
Para que a empresa sobreviva nesse cenário, é muito importante conhecer as expectativas das partes interessadas, que pode incluir a comunidade do entorno ou a comunidade diretamente afetada, bem como toda a cadeia produtiva. Além disso, deve desenvolver alternativas para minimizar impactos negativos e maximizar ganhos (não apenas financeiros), tornando um negócio justo à todas as partes envolvidas.
A sustentabilidade do planeta não se limita apenas às ações voltadas às questões de preocupação global, como o controle de emissão de carbono, mudanças climáticas, apoios ambientais para a preservação de grandes biomas ou culturais. É preciso primeiro se alinhar às causas locais, conhecer o meio ambiente que influencia diretamente, seja de forma positiva ou negativa. Logo, uma atuação sustentável se inicia a partir de questões locais em direção às questões globais.
Além disso, inclui ainda os princípios básicos de governança corporativa, que devem permear todas as práticas que resultem em confiança nas relações com os colaboradores, com terceiros e com o mercado, com transparência, equidade de tratamento entre colaboradores, melhor representatividade da diversidade de partes interessadas, entre outras boas práticas que considerem direitos, deveres, necessidades, interesses e expectativas.
E, dentro desta ótica, as iniciativas de ESG possibilitam que, de forma estratégica, as empresas contribuam e promovam sociedades sustentáveis, englobando os pilares relacionados ao meio ambiente, às questões sociais e à governança corporativa, em comunhão com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS propostos pela Organização das Nações Unidas – ONU, que são um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente, o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade.
Há de se considerar que para uma empresa que já possui um Sistema de Gestão Ambiental, de saúde e segurança, de responsabilidade social e alto nível de governança corporativa, certificado ou não, migrar para o ESG é uma questão de formalizar as iniciativas e torná-las sua estratégia de valor, contribuindo para uma vida mais justa para todas as partes diretas ou indiretamente envolvidas e para as gerações futuras. Do ponto de vista financeiro, o engajamento aos pilares do ESG, formalizando e divulgando as ações das empresas de forma padronizada com indicadores que demonstrem transparência e práticas socioambientais responsáveis, preocupação com direitos humanos, governança e bem-estar social, além de alinhar-se à demanda dos consumidores por sustentabilidade, contribui para a valorização da sua marca, o que gera novas oportunidades de negócios, reduz riscos e obtém diversas vantagens econômicas, tais como acesso às linhas de crédito verde, ganho de vantagem competitiva frente aos concorrentes no longo prazo e mais segurança para o investidor.
Por Rodrigo Fialho,
Coordenador de Meio Ambiente na MKR Consultoria.